Wednesday, June 21, 2006

#01 Duke. Quando as coisas começam

“Dê - nos seu cérebro por alguns minutos e ele nunca mais será o mesmo”, foi primeira coisa que chamou a atenção quando Raoul Duke sentou – se no assento alto e coberto com couro sintético em frente ao balcão. Estranhas vibrações naquele lugar forçadamente requintado, possuía uma aparência de bar britânico, com suas falsificações, réplicas porcas de artistas famosos grudadas nas paredes... E tudo aquilo nos arredores industriais da cidade, o que o tornava bem contraditório. A inscrição talhada na placa cor de bronze fez com que ficasse imaginando que tipo de mente corrompida visitava um ambiente como aquele... Músicos viciados em anfetaminas, escritores falidos atrás de inspiração, cafetinas carentes, pervertidos, agiotas, policias atormentados, psicopatas sorridentes, batedores de carteira, estelionatários, operários desonestos, corretores de seguro e outras aves de rapina menos cotadas, algo dizia que ali era o picadeiro das piores feras. Mas agora, lamentavelmente era parte da escória crescente...
O mau humor cortante do que se parecia com o Barman do local dispersou a nuvem cinzenta dos pensamentos de Duke quando perguntou:
_ E aí camarada, vai ser o que?
_ Duas Heinekens, em um caneco grande - Disse ao sujeito repugnante - e um Jack Daniel’s...
Mistura estranha? Não quando quem pede é um ex-condenado confinado 3 anos que estar sorvendo os ares e os prazeres do seu primeiro dia de liberdade... Primeiras horas. O whisky desceu rápido pela garganta sedenta, o segundo gole foi lento fazendo-o sentir o blender da bebida, coisa que a muito não sentia. A cerveja reabriu as portas para os sentimentos ruins, o desespero e a tristeza presenteava Duke com a mais tensa e deplorável expressão facial. Enquanto levava o caneco até a boca, ele acionava a pedra de seu isqueiro Zippo, com as iniciais HD douradas sobe um brasão vermelho entre asas azuis, se esforçando para imaginar o que ocorrerá nos dias seguintes, a única certeza que o futuro será insólito. Tão compenetrado no seu desespero que nem percebeu no canto esquerdo do bar, uma figura que atraiu sua atenção. Ruiva, olhos azuis, possuindo um mistério que combinava com suas roupas apertadas de couro e suas botas masculinas, também com as iniciais HD, de Harley-Davidson, as mesmas do isqueiro. Ao seu lado no balcão um pequeno capacete alemão preto, óculos Ray-Ban Aviator e uma assustadora garrafa de Blavod Black, vodka inglesa com ervas asiáticas. Peculiaridades condizentes com a motocicleta que Duke visualizou pelo reflexo do espelho atrás do balcão, uma Chopper Hog preta fosca.
Aqueles olhos azuis olhavam displicentemente para garrafa de vodka, como quem planejava algo, e na sua boca grande e vermelha um cigarro, ainda não aceso. Mesmo desesperado, Raoul sorriu em pensamento e percebeu que naquele momento, puxar assunto com um estranho seria uma distração aceitável. Visto que alem do maldito rabugento atendente do bar, havia um casal empolgado com caras de tarados comendo batatas com molho de tomate em uma mesa próximo a entrada, um sujeito gordo do outro lado, metido em um barato terno escuro de microfibra lendo jornal e a atraente criatura de cabelos vermelhos, definitivamente ela seria o melhor estranho para se comunicar. Sem pensar mais ele terminou sua cerveja levantou – se e caminhou em direção da moça.
__ Oi, boa tarde – Disse Duke com um sorriso forçado e com a chama do isqueiro já acesa – Posso ajuda – la?
Girando a cabeça ela alcança a chama com seu cigarro, e mantendo a mesma expressão dura responde:
__ Obrigado Senhor Duke, Raoul Duke, não é mesmo?
Os olhos dele arregalam de susto, e o maldito sorriso some de sua cara. Percebendo o tremor invadir suas entranhas e os pensamentos ruins socarem seus pensamentos, exterioriza no cenho suas duvidas. Como ela saberia quem eu sou? Lutando contra o descontrole repentino, responde com voz tremula...
__ Sim... Mas como...

(Continua)